Exame mostra que sangue no IC é compatível com material dos Nardoni

| | sexta-feira, 11 de dezembro de 2009




Casal cedeu saliva e cabelo para confronto de DNA a pedido da Justiça.
Sangue no IC é mesmo de Alexandre e Jatobá; defesa contestava prova.



Exame de DNA realizado pelo Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico Científica de São Paulo revelou nesta quarta-feira (9) que o material genético retirado do casal Nardoni, a pedido da Justiça, é compatível com o sangue que a Polícia Civil afirma ter colhido dos acusados de assassinar Isabella em 2008 e que está guardado no instituto desde então.

Em outras palavras, o teste de DNA desta quarta prova que o sangue armazenado no IC é mesmo de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina morta, respectivamente. Eles estão presos em Tremembé, a 147 km da capital. O exame havia sido pedido à Justiça pela defesa dos Nardoni porque ela dizia existir dúvidas se o sangue pertencia mesmo aos dois acusados. O advogado do casal, Roberto Podval, alegava que seus clientes jamais haviam cedido sangue no Instituto Médico Legal (IML) - posteriormente, o sangue foi levado ao IC.

Desde o início das investigações, o Ministério Público, a Polícia Civil e os peritos do IML e do IC sempre sustentaram o contrário: que foi feita a coleta de sangue de Alexandre e Anna Carolina com a autorização deles. Essas amostras de sangue que estão no IC foram utilizadas para comparação com manchas encontradas nas roupas e no chão do apartamento onde Isabella estava. Segundo a polícia, o sangue do casal foi utilizado para gerar parte das provas contra eles.

Saliva e cabelo

O juiz Maurício Fossen havia autorizado a coleta da saliva e fio de cabelo dos acusados para análise no IC. O material foi retirado do casal no dia 6 de novembro em Tremembé. Depois, passou por testes de DNA para confronto genético com o sangue que está armazenado no instituto desde o ano passado. O resultado do teste, no entanto, não agradou a defesa, que esperava uma resposta diferente da confirmação de que o sangue guardado no IC é dos Nardoni. Procurado nesta quarta pelo G1 para comentar o assunto, Podval afirmou que vai pedir à Justiça novo exame (leia abaixo).

Isabella Nardoni morreu após ter sofrido esganadura e ter caído da janela do sexto andar de um apartamento na Zona Norte da capital, na noite de 29 de março de 2008. Para a Promotoria, a madrasta agrediu a criança, que tinha 5 anos na época, e o pai a jogou do quarto até o chão. O motivo teria sido uma discussão. Alexandre e Anna Carolina negam que tenham matado Isabella. Eles alegaram à época que um desconhecido entrou no quarto da menina e a matou. Essa pessoa nunca foi encontrada pela polícia. Recentemente, os defensores do casal cogitaram a possibilidade de ter ocorrido até mesmo um acidente doméstico com a garota: Isabella poderia ter caído sozinha da janela.

“A defesa fez o pedido [para análise do sangue no IC] acreditando nos réus e acabou dando tudo errado para eles porque os réus mentiram [ao dizer que não cederam sangue]”, disse o promotor Francisco Cembranelli por telefone ao G1 nesta quarta. Ele foi o responsável por denunciar o casal à Justiça.

Questionamento


Procurado pela reportagem, Podval contestou o resultado do exame de DNA apresentado nesta quarta pelo IC. Disse que vai solicitar à Justiça nesta quinta-feira (10) que o sangue que está guardado no instituto seja examinado novamente, mas agora por um laboratório particular ou independente do IC.


“O resultado do exame me foi entregue como compatível, mas questiono como ele foi feito, pelas mesmas pessoas e pelo mesmo instituto [IC] que afirmou que foi colhido o sangue que o casal nega ter cedido. Por isso, vou pedir que esse sangue que dizem ser do casal passe por um exame num laboratório independente”, disse Podval. “Quem garante que esse exame de material genético foi feito de fato? Para mim, esse exame de DNA do IC não foi esclarecedor.”

Julgamento

Agora, o resultado do exame de DNA conhecido nesta quarta irá à Justiça para ser anexado aos autos do processo contra o casal. O objetivo da defesa em questionar se sangue no IC é mesmo do casal é tentar descaracterizar e encontrar falhas no trabalho da perícia e da acusação.


Em princípio, essa tática não vai modificar a acusação sobre os Nardoni terem matado Isabella. Isso porque há outros indícios apontados pelo Ministério Público para culpar o casal são outros (nenhuma terceira pessoa foi encontrada no apartamento; o tempo que os Nardoni alegam que ficaram fora do quarto não seria compatível para um criminoso matar Isabella e fugir; testemunhas afirmam que só os dois haviam estado com a menina no momento do crime).

A discussão sobre o sangue pode, no entanto, protelar a data do julgamento dos réus. O dia em que eles irão a júri popular deve ser anunciado ainda nesta semana. Para o promotor, Alexandre e Anna Carolina devem ser julgados no primeiro semestre de 2010.

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